SONORIDADE - MUZENZA

  


Dispositivo sonoro: Os candomblés, o samba e o funk possuem uma trajetória não linear marcada por interrupções. Os artigos “Terreiro fora do Terreiro: candomblé do samba ao funk e o rito de passá” de Marcel Marques (2023) e “Guerra dos Graves: da quebra de Xangô ao funk na baixada santista” de Guilherme Martins (2017) dialogam como os terreiros e bailes funks historicamente passaram por um processo de reformulação de sua práticas devido questões sociais, políticas e culturais que anularam as sabedorias da cultura afrodiaspórica. Assim, trouxemos para concepção sonora de MUZENZA, uma trilha que une o samba, candomblé e funk dentro de uma organização marcada por interrupções, criando um relação intersubjetiva dessas sonoridades com a proposta do espetáculo, que perpassa pelas sabedorias das ervas e os ensinamentos dos yaôs nos candomblés Bantu.



Tanto o candomblé quanto o funk produzem, a partir de suas batidas graves, um território que possibilita a emergência de ritmos e corporalidades não hegemônicas, agregadas ao redor das fontes emissoras de som. Os bailes funk e o candomblé constituem, sonoramente, espaços-tempos que escapam tanto à regulamentação do ruído urbano quanto à normatização dos corpos, e talvez por isso seus festejos incomodem tanto determinados estratos da sociedade brasileira. (MARTINS, p. 16, 2017)


No espetáculo MUZENZA trazemos possíveis raízes ancestrais que retroalimentam as sabedorias do povo negro-brasileiro. Pensamos raízes enquanto motrizes que alimentam e sustentam assentamentos, fundamentos e espaços intersubjetivos entre o cotidiano e as sensações que nos proporcionam territórios de pertencimento. Os conhecimentos que circulam nos candomblés, nos funks, nos sambas e nas plantas são os nossos epicentros para a enunciação da arte negra.

Nesse trabalho os sons e corporalidades não hegemônicas se unem para reivindicar o retorno em contínuo-fluxo das sabedorias que circulam na oralidade, fortalecendo a nossa relação com a natureza e com as nascentes ancestrais que o tanto os candomblés quanto o funk e o samba anunciam.




Em quatro sets  apresentamos a emergência de ritmos e espaços temporais que entrecruzam candomblés, funk e samba. O primeiro é uma viagem pela pulsação do funk anos 90, o cotidiano da cura pelas plantas, o ensinamento ao muzenza e uma provocação sobre a substituição da sabedoria das plantas pela medicina científica ocidental. No segundo tratamos das curas pelas folhas de Ossain e a sua conexão com os conhecimentos da oralidade e sabedoria das ervas. No terceiro adentramos no território de Oxóssi, orixá das matas, da prosperidade e do sustento. Uma saudação ao tempo, para que dias melhores possam surgir, no que tange a nossa relação com a natureza e os saberes ancestrais. O último set é um ilá, quando os muzenzas saúdam e dançam às ervas e suas raízes da afrodiáspora ao som do funk.

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