Fichamento - TERREIRO FORA DO TERREIRO: CANDOMBLÉ DO SAMBA AO FUNK E O “RITO DE PASSÁ”.
O som cria uma dimensão nas culturas africanas, como uma forma de contar o tempo. As músicas funcionam como meio para manter o senso comunitário, então, nas primeiras décadas do século XX os batuques e cantos de samba se constituem como lugares de manifestações de resistência e permanência. Muniz Sodré (1998) diz que onde havia negro havia samba, desde o período escravocrata o gênero musical se ressignificou e popularizou-se em rodas nas casas das tias negras, nos quintais e bares.
Negros e negras escravizados (as) buscavam maneiras de diminuir a dor do exílio em danças, músicas e cantorias, além de mandingas e envenenamentos.
O cotidiano dos negros no período colonial, seja no trabalho ou em seus momentos de folga, tinha a música como característica, “estas cantorias que, muitas vezes, aliviava o peso da carga durante o trabalho, além de revigorar e alegrar, apesar de todo sofrimento” (RANGEL; SILVA, 2018, p. 70). Dessa forma, ao lado das comemorações religiosas as músicas aparecem como arma de resistência e não como mero entretenimento.
A música e os terreiros são heranças desses povos escravizados no Brasil colonial, que graças à luta e resistência dos negros e negras resistem até hoje, ou talvez, essas pessoas escravizadas que resistiram graças ao samba e ao manter vivas suas raízes religiosas.
Porém o sistema segue o mesmo e os movimentos negros seguem se articulando e criando ritmos e sons que propaguem a cultura que borbulha nas periferias e favelas brasileiras. Nessa perspectiva, o samba surgiu no século XIX e apesar de todos os silenciamentos tornou-se símbolo de ser brasileiro, outro ritmo emergiu das periferias do Rio de Janeiro no século XX, o Funk Carioca.
Assim como o samba, o funk atua como propulsor do comportamento e da realidade das periferias brasileiras. Além de ser marcado pela batida típica da música africana, batuques, sambas e funk propiciam a dança e muitas vezes um não está completo sem o outro. A repressão e estigmas sofridos pelos gêneros também são idênticos, taxados como não válido culturalmente pela classe dominante, por vir de um lugar pobre e negro (RANGEL; SILVA, 2018).
Finalmente, a partir desses exemplos, é possível ver cada vez mais a repercussão das religiões de matriz africana além dos muros do terreiro, alcançando a cultura brasileira em outros aspectos, passando pelo samba, chegando até o funk e conquistando lugares como a ciência da ficção. Dessa maneira, a música segue sendo uma ferramenta forte para a propagação e manutenção das culturas e continua movendo a diáspora, em seus momentos de trabalho e em seus momentos de descontração, nas periferias espalhadas pelo Brasil.
A principal herança deixada pelos escravizados foi, além das religiões, canções e ritmos a determinação de manter-se vivo e junto com eles perpetuar sua cultura e seus saberes, que mesmo fortemente reprimidos, sobrevivem dentro dos brasileiros e também nas suas caixas de som.
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